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segunda-feira, junho 02, 2003
::O rock e o rap dizem ‘eu sou o samba’ (ao som de a maldição do samba de marcelo d2) Hugo Sukman Até lá por meados dos anos 60, a unidade musical brasileira era chamada de samba. “Sambinha novo, Orfeu?” era a pergunta, mesmo se o enamorado de Eurídice tirasse do pinho uma dolente valsa. Hoje, que o samba está exilado do mercado na mão da nobreza (de Luiz Grande e Zeca Pagodinho a Aldir Blanc e Paulinho da Viola, de Moacyr Luz e Monarco a Nei Lopes e Chico Buarque...) ou confinado à vulgarização do samba-de-raiz (este parente do forró universitário), artistas brotados da lama — no sentido chicoscienciano — do pop reivindicam para si a filiação ao samba. Relação de filho com direito a revoltas e má-criações, mas reconhecendo que, ao modelo dos compositores pop de antigamente, o samba continua mãe de todos. Marcelo Camelo, do Los Hermanos, quer agradar a namorada-fã de Chico Buarque e abre o terceiro disco da banda, “Ventura” (BMG), com “Samba a dois”, levado com guitarras percussivas e melodia cheia de curvas. “Não, eu não sambo mais em vão/O meu samba tem cordão/O meu bloco tem sem ter e ainda assim/Sambo bem a dois por mim/(...) Sambo por gostar de alguém gostar de”. Depois, deixa clara a provocação no refrão: “Quem se atreve a me dizer/Do que é feito o samba?”. É uma provocação à idealizada namorada buarquiana e também uma declaração de amor (e um pouquinho de ódio filial, vá lá) ao próprio samba de um Chico Buarque tão jovem quanto Camelo hoje. Nos anos 60, Chico escreveu o discriminatório (do que é ou não o samba) “Tem mais samba”, citado diversas vezes na canção dos Hermanos: “Deixa haver samba no peito de quem chora”, “Vem que passa o teu sofrer”, “Já que um bom samba não tem lugar nem hora”. Em seu segundo disco solo, “À procura da batida perfeita” (Sony), o rapper Marcelo D2 é ainda mais explícito na relação que propõe ao samba. No rap-título, a partir de uma base sampleada do violão cheio de balanço de Luiz Bonfá (referência esperta, que já diz tudo), o cantor do Planet Hemp avisa: “Eu vou no samba à procura da batida perfeita então corre/A batida é minha cheguei primeiro/No ruim faz a fezinha que é tudo por dinheiro/solto na Babilônia e lá procuram a paz/Perderam o manual e agora como faz?” Fica ainda mais explícito no manifesto “A maldição do samba”: “Globalizando ou, não mantenho meus laços/Do hip hop ao samba é compasso por compasso/Nem feliz nem aflito nem no lugar mais bonito/Nada mais interfere no quadro que eu pinto/À benção velha guarda o samba de terreiro/A maldição te pega no Rio de Janeiro”, canta citando “Poder da criação” (João Nogueira e Paulo César Pinheiro). E, ao samplear o “Argumento” de Paulinho da Viola, repetir a relação filial (revoltada e amorosa) do Los Hermanos com Chico Buarque. Quando Paulinho fala em “não me altere o samba tanto assim”, D2 qualifica tal postura como A maldição samba, ao mesmo tempo dando razão ao chamado à razão de Paulinho e o combatendo ao fazer do samba, rap. Ou, como ele mesmo diz no refrão de “Vai vendo”, “Eu vim com o pesadelo do pop/Eu sei, no samba represento o hip hop”. Tanto “Ventura” quanto “À procura da batida perfeita” são grandes discos, de exceção no comportado pop brasileiro. O quarteto carioca consegue a síntese de sua linguagem muito própria: nem o rock ortodoxo e leve do primeiro disco (que gerou o megassucesso à Beatles “Anna Julia”), nem a melancolia circense e pesada do segundo (mas cuja sonoridade ainda era ortodoxamente roqueira), e sim um disco de rock impregnado de influência brasileira. Além do samba, há influências várias como o Ivan Lins dos anos 70 presente no piano de Bruno Medina e na harmonia de “Conversa de botas batidas” (Camelo). O fato de os Hermanos chamarem o não-roqueiro Kassin para produzir “Ventura” já revela a intenção. E o produtor conseguiu a justa medida da cara mais lírica e leve da banda (nas composições de Camelo) com a face mais densa (das composições de Rodrigo Amarante, como a ótima “Do sétimo andar”, com versos da estirpe de “Eu via você/E a luz desperdiçada de manhã/No copo de café”); ou da matriz roqueira ao experimentalismo e à influência brasileira. D2 busca a batida perfeita (no caso dele a incorporação do samba ao rap) auxiliado pelo produtor americano-brasileiro Mario Caldato. Em relação ao disco anterior, “Eu tiro é onda”, o progresso é nítido. Tanto nas referências do samba — sai Bezerra da Silva e entra João Nogueira (sampleado também em “Re:batucada”) — como na maturidade do seu verso. Que diz: “Sorria, meu bloco vem descendo a cidade/Vai haver carnaval de verdade/O samba não se acabou”. Amém. |
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