terça-feira, fevereiro 28, 2006
 
:: dvdteca.05.a viagem de chihiro

uma das coisas estranhas em ser estrangeiro é essa solidão que dá quando evito usar alguns simbolos orientais porque simplesmente não significam muita coisa para a maioria que conheço. as pessoas comem sushi, falam dos mangás e da tecnologia. mas pouca gente se interessa efetivamente pelas culturais orientais a ponto de querer assimilar um pouco em suas vidas. então foi uma surpresa para mim quando ouvi minha irmã bruna mara me dizer: "quando eu vi a viagem de chihiro é como se uma nova perspectiva abrisse para mim".

miyazaki é um mitologista. ele cria mundos tanto dramaturgicamente quanto visualmente. é um gênio com uma sensibilidade aguda. a viagem de chihiro é um filme daqueles que faz meu coração achar que está em casa. não são somente os simbolos (porcos, trens, bruxas, yure, espíritos), mas também as relações que cada coisa tem com os personagens e o lugar.

quando encontro alguém interessado nesse filme, mas um interesse muito mais cultural do que fílmico, sinto menos solidão.


 
:: dvdteca.04.minha amada imortal

confesso a vocês que entendo bulhufas de música erudita. uma ou outra peça posso reconhecer e dizer o nome. mas digo a vocês que a música mais bonita que foi feita é a "nona sinfonia de beethoven" e já tinha isso em mente antes de ver o filme "minha amada imortal".

o bacana desse filme não é tanto a relação do criador e obra -- apesar de eu gostar muito mais quando exploram esse tipo de relação nos roteiros dos filmes --, mas os desencontros que vão se seguindo durante o filme.

o assistente de beethoven, depois de sua morte, quer saber quem é a amada imortal que citada numa das cartas do compositor. ao entrevistar alguns familiares e amigos, o filme faz um mosaico de visões que nos dá impressão de que beethoven é um cara chato e excêntrico e que isso não condiz com sua obra. no entanto, ao longo da narrativa, percebemos que a mágoa vinha dilacerando sua alma e os desencontros acentuavam isso.

até que a seqüência final é de uma redenção surpreendente. enquanto todos tinham como acabado e louco, beethoven apresenta sua nona sinfônia, uma música com uma dramaticidade impar, nuances e que em seu último movimento faz uma celebração da alegria, da felicidade. era como se ele tivesse pego todas as suas felicidades em vida e tivesse tecido uma colcha e exposto aos ouvidos do mundo (no filme, a sequencia é um paralelo entre o compositor sendo aplaudido e um céu de estrelas). ao se virar, beethoven recebe os aplausos com gratidão.

um dos personagens diz que a pessoa que compôs aquela música não poderia ser uma pessoa ruim.

isso me faz pensar até hoje.


 
:: dvdteca.03.forrest gump

este é um dos filmes mais impressionantes que eu já vi. fábula moderna, o filme -- até que inocentemente -- tem esse ar de que os bons de alguma forma vencem.

uma das coisas interessantes no filme é que não passamos pela história em vão. mesmo que não tenhamos nossos nomes escritos no livros, somos agentes da história e mesmo que o personagem do filme não queira e não saiba disso, ele tb faz parte (bretch perguntava onde estaria o nome do cozinheiro de napoleão porque ele também fazia parte da história).

outra coisa é o relacionamento que forrest tem com sua amada. algo muito puro e de certa forma utópico. mas o interessante dessa relação é como o amor (ou seu representação) de jenny vai se transformando durante o filme até o momento em que ela aceita forrest e abdica de suas angustias. o amor em jenny é visceral. ela vai para o mundo tentar viver, mudar, ser o mundo. mas esbarra em perguntas singelas que vem de forrest: "why don´t you love, jenny? I'm not a smart man, but I know what love is." diz forrest.

mas a cena sensacional desse filme é quando forrest encontra seu filho. e num momento dramático ele pergunta a jenny se seu filho tem algum tipo de deficiência mental. até esse momento pensamos que forrest está a revelia de qualquer consciência do mundo, que está sendo levado como uma pena. mas ao revelar que ele tem consciência de suas limitações, somos totalmente desarmados. muitas vezes escondemos nossas fraquezas para sobreviver a esse mundo muitas vezes tão vil. outras vezes simplesmente esquecemos. mas o que fazer quando nossas fraquezas podem prejudicar quem amamos?

de uma certa forma, forrest gump é um filme até tolo, ingênuo e que pode errar em muitos detalhes históricos. mas acho que dá para pensar que nossa vida, de alguma forma, é tão extraordinária como de forrest ou mesmo como de drummond ao ver sua mãe coser enquanto ele própria lia as histórias de robson crusoé.


 
:: dvdteca.02.noites de cabíria

para mim, fellini é um dos grandes gênios do cinema. me apaixone pelo jeito que ele faz cinema depois de assistir ao seu "amarcord". extremamente sensível e engraçado!

noites de cabíria não foge a regra e acho que um dos melhores filmes. a maioria dos cinéfilos gosta do "8 e meio" ou da "doce vida". tenho impressão que esses filmes são mais intelectuais. o amarcord e o noites de cabíria são filmes que tocam mais na emoção.

eu assisti a giulietta masina pela primeira vez no filme "a estrada". e foi amor a primeira vista. nunca me ocorreu que a figura femina podia ser sensível em um palhaço. sempre tive o palhaço como o exagero de alguma característica. mas giulietta masina em "a estrada" coloca a delicadeza num tom visceral.

as noites de cabíria é um filme divertido. são as peripécias de uma prostituta em busca de um verdadeiro amor numa roma suja e cheia de vícios. mas o que é devastador é o desfecho da história. fellini simplesmente destruiu o meu coração com aquela cena final. sai do cinema (sim! eu vi numa sala de cinema) totalmente destroçado emocionalmente mas também com uma vontade maluca de esperança. não consiga parar de repetir na cabeça: ca.ra.lho. ca.ra.lho.ca.ra.lho...





 
o gravador de dvd é uma grande maravilha da tecnologia. eu tinha o costume de gravar filmes em vhs, mas como a fita era muito cara, eu colocava 3 filmes numa fita no modo ep (aquele q deixa a imagem muito ruim). com o shrink (o programa que copia) eu praticamente tenho o melhor que o dvd pode oferecer numa mídia que custa 2 reais. acabei tendo o costume de gravar filmes ora por que gosto muito, ora para assistir depois (de semana é mais barato alugar e posso assim ver no final de semana).

vou começar a deixar uma lista comentada de filmes que gosto muito.

:: dvdteca.01.paciente inglês

esse dvd que eu tenho é original. comprei numa promoção lá na santa ifigênia. foi o primeiro filme a que assisti da minha tradição de no meu aniversário ir ao cinema. um filme muito sensível com esse clima de época que adoro. a fotografia é belíssima e a direção também. gosto da tensão que há entre os personagens e o fim trágico. pelo filme, acabei comprando o livro num sebo. posso dizer que o filme é tão bom quanto livro apesar deste último ter outras sutilezas.

gosto muito da idéia de ter um caderno em que se anota as coisas da nossa vida. um sistema sem muita lógica, mas que vai registrando. no filme, o caderno a que me refiro acaba sendo escrito a quatro mãos e as leituras de um terceiro e quarto personagem dão outra dimensão ao caderno.


sexta-feira, fevereiro 17, 2006
 
:: o preconceito norte-americano

tenho medo de cair no preconceito com o norte-americano (não o canadense), mas acho que é um povo bem mal informado em muitas questões. principalmente ao que se refere ao terceiro mundo. eu já havia desencanado do orkut muito por causa das comunidades excessivamente preconceituosas com qualquer forma de cultura que não seja norte-americana. nesses dias, descobri um site bacana chamado youtube.com . lá é possível hospedar vídeos como se fosse blog e o mais interessante é que é possível criar teias de relacionamentos através de palavras-chaves. para assistir os meus clique aqui (tem até coisa estrelando a nossa querida mari).

bom, nesse site eu encontrei algumas coisas em video sobre capoeira. quando comecei a ler os comentários me assustei de novo. os norte-americanos simplesmente comentando coisas como "que bosta!", "kung-fu dá um pau neles", etc.. acho que na cultura norte-americana o importante é a classificação. há sempre essa necessidade de ser o melhor. vide as listas top 5 (que são interessantes como curiosidades). por isso, adoro a música do loser manos, o vencedor, uma ode linda aos perdedores ou os que não fazem questão de classificação. e se você gostar menos de mim porque eu perco, então azar o seu, baby.



quinta-feira, fevereiro 16, 2006
 
:: o jardineiro fiel

"cidade de deus" é um filme muito bom. o roteiro é sensacional e a direção do fernando meirelles é inventiva, moderna e tensa. fazia tempo que eu não via coisas bacanas em direção no brasil. uma ou outra coisa do beto brant ou da bodansky. fui assistir ao filme "o jardineiro fiel" com a minha irmã bruna mara depois de uma boa conversa para colocar as coisas em dia (ela mora em londres, mas tá fazendo um h por aqui). a bruna é dessas pessoas muito atualizadas nas coisas políticas do mundo.

tinha receio de que "o jardineiro fiel" tivesse caído na armadilha de "água negra" do walter salles: entrar na máquina hollywoodiana. estava enganado. o filme é sensacional. apesar do roteiro não ser tão inventivo quanto o de "cidade de deus", meirelles fez um trabalho de direção sensacional. pensei até que poderia ter sido injustiça que não tenha sido indicado novamente ao oscar. o filme é tenso do começo ao fim, mas sem perder a sensibilidade que o fato amoroso pede.

eu considero o fernando meirelles o maior diretor em atividade no brasil.

p.s. a idéia do filme parece absurda, mas se você for pensar na lógica que o mundo anda tendo, não é nada impossível que o uso da africa como ratos de laboratório seja uma verdade.


sexta-feira, fevereiro 10, 2006
 
Eu já falei que amo o Laerte?