quinta-feira, fevereiro 28, 2008
 
:: Se cuida, Renato Machado!


Ontem foi dia de despachar Alice pra casa da avó pra ir me embebedar numa degustação de vinhos.

Esse universo dos vinhos é engraçado. Ao mesmo tempo em que é pedantíssimo, é divertido e até simpático. Tem coisa mais simpática do que um monte de adultos afundando o nariz na taça e dizendo, hum, esse vinho está fechado, quase discreto, já este está se abrindo, se revelando, sinto notas de xixi de gato, tabaco e frutas vermelhas?

11 pessoas numa mesa de restaurante, todos profissionais, entendidos ou ao menos simpatizantes do assunto. Mais o Carlos, que engana direitinho, e eu, que gosto de Sangue de Boi, Chapinha e afins (mas tive o cuidado de não mencionar isso à mesa, claro).

Era uma degustação às cegas. Cada um recebia 3 taças numeradas e uma tabela de avaliações, mais a ficha técnica de cada amostra. Tudo em branco, pra gente completar no decorrer da degustação.

Pra começar, o senhor simpático que conduzia a ação já entrega: as 3 amostras são de Cabernet Sauvignon da Argentina. Todo mundo anota na ficha, e tenho meu primeiro momento de tensão: não tenho lá muita certeza de como se escreve isso. C-a-b-e-r-n-e-t, com T mudo no final, S-a-u-v-i-g-n-o-n, é assim?, pensei tampando meu papel por medo de olhares críticos dos meus vizinhos.

Aí a brincadeira começa pra valer.


TESTE VISUAL - Olhar para o vinho. Notar a cor. Pôr o papel branco atrás das taças pra comparar, e por fim anotar comentários e dar notas de 1 a 3.
Ok, fácil: o vinho 1 é cor de vinho. O 2 também. E o 3 também. Iguaizinhos. Mas ouço os meus colegas falando bonito, dizendo que esse é cereja escuro e aquele é vermelho profundo, levemente mais brilhante do que aquele outro, o que tem unha maior (???) e lágrima mais persistente. Hum. Então dou notas 3-2-3, pra mostrar que eu também sei notar a diferença entre cor de vinho e cor de vinho, e a cor de vinho da amostra 2 perdia ligeiramente para a cor de vinho das outras.


TESTE OLFATIVO - O famigerado momento de meter o nariz. Primeiro com a taça em repouso e depois balançando, pro vinho respirar e se abrir em todo o seu esplendor.
Minha avaliação - Taça 1: álcool. 2: também. 3: idem ibidem. Céus, cadê meu olfato apurado numa hora dessas? Cadê meu curso de degustação de café? Decepcionada comigo mesma, insisti nas narigadas até concluir o seguinte: o 1 cheirava a vinho gostoso e docinho, o 2 era meio metálico e o 3 parecia borracha queimada. Fiquei especialmente orgulhosa com o "borracha queimada", que achei de uma precisão absoluta e além de tudo é um termo que super me pareceu desse universo dos cheiradores profissionais.


TESTE GUSTATIVO - Nós viemos aqui pra quê, afinal? Então me joguei nas taças, sempre com muita elegância e atenta às sutis nuances que elas revelavam a cada gole.

Taça 1: Nhé. Um gosto inesperado, bem diferente do cheiro. Muito seco e com um aftertaste (hã, hã?) amargo e persistente. Não gostei.

Taça 2: Nhé. Gosto de lata, daquelas latas de coca-cola antigas que às vezes vinham meio enferrujadas, sabe? Não gostei.

Taça 3: Nhé. Pertuchento, como diria meu pai. Desceu amarrando a boca. Não gostei.

Não anotei nada disso na ficha, só pensei. O resto da mesa parecia satisfeito. Concluindo que mandei mal, achei por bem continuar provando, e provando, e provando, até conseguir formar alguma opinião que prestasse.

TESTE GUSTATIVO, Round 2

Taça 1: O começo é gostoso, frutadinho. O amarguinho do final é que incomoda um pouco.
Taça 2: Lata.
Taça 3: Opa, agora senti a borracha. Mas não é ruim não. Tem corpo e enche a boca.

TESTE GUSTATIVO, Round 5

Taça 1: Diliça!, mas o amarguinho final incomoda um pouco. Só um pouco.
Taça 2: Lata? Não, isso é gosto de injeção. Sei lá... é bom, até.
Taça 3: Nham-nham! Muito tanino, né? Tanino é bom? Ah, então beleza!

TESTE GUSTATIVO, Round 8

Taça 1: noussaaaaa... tem o gosto do cheiro da Alice, docinho que nem ela, que estranho!
Çata 2: moço, acabô esse aqui, completa pra mim?
Caca 3: como é que é que você anotou aí no 3, amor? "Urina", "sauna" e "aspargo"?? Hahahaha!! Põe aí também: "pneu de caminhão" e "elástico de estilingue"! HAHAHAHAHA!!! Opa! Desculpa, meu senhor... a camisa era nova? Vinho mancha, é? Moooça, enche aqui, por favor, pra mim e pra esse senhor, que a gente tá precisando!

Claro que o round 8 é fictício e mostra o que aconteceria caso houvesse nas taças vinho suficiente para 8 rodadas. Felizmente parei no round 5 com a seguinte conclusão: o 1 é bom, o 2 é ruim e o 3 é marromenos.

Somadas todas as avaliações, o vinho 1 foi o grande vencedor da noite e acompanhou o jantar delicioso que veio a seguir (ah tá, agora sim a gente vai beber!).

Então nós comemos e bebemos e voltamos pra casa felizes, cantando e trançando as pernas. E eu ainda tive que disfarçar minha embriaguez da minha mãe na hora de buscar Alice, coisa que não fazia desde os meus 23 anos e que evidentemente não funciona, haja visto que ela acaba de me telefonar pra perguntar se eu "tô melhor".

Fim.

(E Lu, você TEM QUE IR COMIGO da próxima vez! É uma diversão sem par!)


terça-feira, fevereiro 26, 2008
 
:: É muita emoção pra uma terça-feira


Hoje eu fui ao cabeleireiro dar um trato nas madeixas.

Eu e... BIANCA EXÓTICA!


Sim! A diva estava ao meu lado dando uma geral no picumã, minha gente! Demorei para reconhecê-la ali naquele processo todo, com os cabelos molhados e grudados na cabeça. Mas bastou um escovão para recobrar o glamour, levantar da cadeira e pronto, ali estava ela, de míni (mínimíssimo!) vestido branco e metro e meio de pernão de fora.

Eu já desconfiava, mas hoje confirmei: precisa ser macho pra caralho pra ser Bianca Exótica.


sexta-feira, fevereiro 22, 2008
 
:: Você sabe que está acordando cedo demais quando...


... sua filha te chama de manhã e por um instante você pensa: gente, essa menina ainda não dormiu?

... liga a TV pra ver Video Show e dá de cara com a Ana Maria Braga

... ao checar por que o almoço está demorando tanto se dá conta que são 9h30 da manhã

... o boa noite que te leva pra cama é o do William Bonner no fim do Jornal Nacional



 
Uma das coisas mais bonitinhas do mundo é a Alice comendo sopa.

Eu esperava o caos. Tinha me preparado pra boca trancada, carinha de nojo, sopa cuspida. E ela simplesmente amou! Abre uma boca que mal cabe na cara dela, resmunga de ansiedade entre as colheradas e ainda mastiga, sabe-se lá como. E ri de boca cheia e fala da-da-da e fica coberta de sopa até as orelhas, um belo espetáculo.

Mas aí eu notei uma coisa: ela sempre come vorazmente por 5 minutos e depois começa a espirrar e fungar e coçar o rosto. Eu achei que era alergia a algum alimento, até o dia em que ela espirrou e, no impulso, ejetou pelo nariz um teco de papa verde. Aí eu entendi: eu, jeitosa que sou, estava enfiando litros de sopa dentro do nariz dela a cada colherada.

Não bastasse isso, a coitadinha ainda tava levando a injusta fama de melequenta por conta das caquinhas que ficavam grudadas no nariz. Eu olhava e pensava: meu deus, essa menina não era caquenta assim, que houve, será que é gripe?, enquanto ia xuxando o lencinho nariz adentro, pra tentar pescar o resto da sujeira. Humilhante, pobrezinha. E tudo culpa da falta de perícia da mamãe aqui.

Aí fiquei pensando: será que comida intra-nasal é uma ocorrência comum nos filhos de primeira viagem?

Será que mais gente já foi vítima da descoordenação (dos outros ou própria) e levou uma fama injusta por causa de coisas estranhas grudadas no nariz?

Será que a Amy é primeira filha e ainda mora com a mãe???

Hein? Pó branco? Mas isso é mingau de aveia, gente!




quinta-feira, fevereiro 21, 2008
 
Hoje Alice disse gugu-dada, que notável!, achei que isso só acontecesse nas histórias em quadrinhos.


segunda-feira, fevereiro 18, 2008
 
::Horário de verão II

Pensando bem, embaraçoso mesmo era o meu raciocínio quando criança:

- Cara, como é que o sol sabe quando começa o horário de verão e nasce mais tarde no dia certinho???


 
::Horário de verão

É um pouco embaraçoso admitir, mas horário de verão me confunde deveras. Eu já atrasei o relógio quando devia adiantar, adiantei quando devia atrasar, cheguei atrasadérrima no trabalho achando que estava na hora certa, e por aí vai.

Então, esse ano, o horário de verão estava pra acabar e, por alguma razão que me escapa, eu estava contentíssima achando que a Alice ia acordar mais tarde. E olha que ela já é incrível: dorme a noite toda desde os 3 meses e acorda às 7h e pouco, um horário bem razoável pra um bebê. Aí eu fiz alguma conta maluca que não lembro qual era, e conclui que ela ia passar a acordar às 8h e tantas. Acalentei essa feliz idéia até hoje, quando Alice - que diferente da mãe é esperta e sabe fazer contas - me chama às 6h da manhã.

Eu sou aquele tipo de pessoa que dorme até segunda ordem, então dá pra imaginar como eu estou sofrendo. Tá certo que, no fim das contas, a hora que ela acorda é rigorosamente a mesma, mas e o psicológico, minha gente? Porque 7h ainda vá lá, mas 6h?? 6h é indecente, Alice! Mamãe precisa do sono da beleza! Mamãe não acorda às 6h desde que saiu da escola, o que já faz um bocado de tempo. Mamãe está mal acostumada e a culpa é um pouco sua, que sempre dormiu bem.

Estou pensando seriamente em ignorar o horário de Deus e manter o relógio do quarto adiantado para todo o sempre!


sexta-feira, fevereiro 15, 2008
 
- Que legal, então vocês vão casar?

- É. Mas ele precisa me pedir em casamento!

- Ué, mas já não tá combinado?

- Tá, mas só acredito quando eu estiver com o anel aqui, ó! (mostra a mão direita)

- Você quer pedido, anel e tudo? Sei lá, isso não combina com ele não...

- Combina sim! Ele é romântico!

- Jura???

- Ele é socialista, BZ... tem coisa mais romântica do que isso?



sexta-feira, fevereiro 08, 2008
 
:: Alice, a mulher tombada




(e desfocada.)




quinta-feira, fevereiro 07, 2008
 
:: Das caquinhas

Existe todo um universo de nojices que a gente só descobre quando vira mãe. Na verdade a gente já conhece enquanto é filho, mas só aprendemos a apreciá-lo devidamente quando mudamos de papel: se antes eu dizia “ai mãããe, nhé, que nojento, pára!”, com caretas e tudo mais, hoje sou eu que agarro a Alice e faço toda sorte de coisas nojentas com ela. Nojentas pros outros, claro, porque pra mim é sempre um prazer.

Não precisei nem de uma semana como mãe pra fazer a nojice materna mor: limpar a carinha dela com cuspe. Opa, uma sujeirinha aqui – e dá-lhe lamber o dedo e esfregar a bochecha dela até sair. Isso me ENLOUQUECIA quando eu era pequena, mas com a Alice é irresistível.

Outra coisa mais forte do que eu é tirar meleca do nariz dela. Porque a meleca tá toda ali, na portinha, pedindo pra ser pinçada pra fora. Mãe que é mãe pinça, sem a menor cerimônia. E com os dedos, se preciso for.

E limpa cocô. E enxuga vomitinho azedo. Remela, xixi, baba – se minha filha fez, eu pego sem problema nenhum. Eu, que sempre fui fresquíssima. Eu, que até ontem tinha ânsia de vômito pra limpar cocô de cachorrinho salsicha. Eu, que jurava de pés juntos que nunca iria virar aquele tipo de mãe, que lambe o dedo pra limpar a cara do filho e pega meleca de nariz.

Nem é tanto essa mudança de comportamento que me choca. Afinal, todo mundo vivia me dizendo que ser mãe muda a gente.

O que realmente assusta é me dar conta que estou me transformando na minha própria mãe.



domingo, fevereiro 03, 2008
 
:: Post-relâmpago num dia difícil

Em seu primeiro Carnaval, Alice segue dando um baile.


sexta-feira, fevereiro 01, 2008
 

:: ALALAÔ!

Enredos de carnaval sempre me divertem muito. Sério mesmo.

Porque é impressionante como os caras conseguem discorrer sobre rigorosamente qualquer coisa usando a velha fórmula Aula de História + Clichês Carnavalescos (veio do oriente - cruzou os mares - em busca de riquezas - África - Grécia Antiga – Roma - índios – bandeirantes - emoção - sedução - coração - magia encantando a avenida etc etc etc). O tema não importa. Pode ser o centenário de um evento obscuro qualquer, um personagem histórico do terceiro escalão, uma mensagem ecológica, o futuro, o passado, um ano, um objeto. Não importa desde que, é claro, ele venha do oriente, cruze os mares e seja cheio de sedução e magia. Depois é só inserir o nome da escola uma porção de vezes, botar o breque e sair saltitando de pura emoção, encantando a avenida.

Pois hoje, para meu deleite, o Guia da Folha resolveu publicar as letras dos enredos paulistanos. É basicamente aquilo ali em cima mesmo, sem grandes surpresas. O que me parece muito peculiar é o fato de que, entre tantos temas esdrúxulos neste mundo de Deus, duas escolas (a saber: Acadêmicos do Tucuruvi e Águia de Ouro,) resolveram que o tema do ano, o assunto a ser desenvolvido em letra, música, carros alegóricos, fantasias e adereços, num desfile de mais de uma hora transmitido em rede nacional e visto por milhões de pessoas, o tema transformador que com certeza trará para a escola o inédito e tão sonhado título, é sorvete. E mais legal é que elas não se repetem! A Acadêmicos optou por uma abordagem histórica da iguaria (vocês sabiam que o sorvete, que obviamente veio do oriente, “atravessou o mar pra se consagrar, ‘americanizou’, evoluiu, surgiram sabores, receitas incríveis que o mundo aplaudiu”???). Já a Águia se concentrou nas sensações: “simples toque de magia que vai te refrescar, que maravilha! Tem várias cores que enfeitiçam seu olhar, obras de arte que fascinam o coração, sedução.”

Então, pessoal, hoje teremos Núbia Olliver (essa é a terceira ou quarta grafia para o nome da maluca?) e Vampeta, destaques das escolas, sacolejando seus corpos seminus em louvor ao sorvete. Só não vai ser o ponto alto da diversão carnavalesca porque amanhã, no desfile da Camisa Verde e Branco, teremos Gretchen, Simony e Jassa (!!!) desfilando a história do cabelo. Que não veio do oriente, mas em compensação “na Grécia e Roma definia classes sociais”...