sexta-feira, abril 25, 2008
 

 :: Alice e o dente 

Entre uma mordida banguela aqui e outra ali, eu me dei conta: tá nascendo o primeiro dente da Alice. Ainda nem chega a ser um dente, é mais um serrotinho brotando da gengiva que a gente percebe quando passa o dedo (ela fica bravíssima). Mas tá lá.

Então minha filha já tem dente, que mocinha! Minha reação? Fiquei com vontade de chorar. Sério. Estou vivenciando o luto da gengiva – mais um, entre tantos outros lutos que a gente vive quando tem filho. Porque você ainda tá se acostumando com aquela pessoinha daquele jeito e quando vai ver, já foi. Ela já mudou e nada será como antes. Minha sensação é: a Alice nasceu anteontem, sentou ontem e hoje tem um dente. Se continuar nesse ritmo, ela vai aprender a falar amanhã, a escrever depois de amanhã e na semana que vem vai estar com 15 anos, cheia de piercings e gritando que me odeia. Daqui a um mês eu viro avó! Deu pra sentir o drama?

É tudo muito rápido, cara! E eu sinto que tô perdendo o bonde. Mesmo estando aqui do lado dela todos os dias, vejam só. Mandei a licença-maternidade pras cucuias e me dei esses primeiros meses da vida da minha filha de presente - um luxo que valeu muito a pena, pra mim e pra ela. Imagino como deve ser difícil sair de casa de manhã e perder cada sorriso, cada truquezinho novo, cada coisa que eles aprendem todo dia – e são tantas que até estando do lado é difícil acompanhar. Quando bate a crise de estar “improdutiva” por tanto tempo, é isso que me anima. E, verdade seja dita: improdutiva o cacete, né? Tô no trampo mais cansativo, mais exigente e mais relevante da minha vida. E, de quebra, o que me dá mais prazer, apesar dos pesares.

Mas eu falava do dente, do luto e das gengivas. Acontece que eu me apeguei às gengivas. As gengivas são uma feliz surpresa que os bebês trazem consigo, apesar de a primeira vista não valerem grande coisa. Antes da Alice nascer eu tinha mil expectativas, mas nunca, nunquinha, dei nada pelas gengivas dela. No entanto, aí está: elas estão com os dias contados e eu estou sofrendo horrores. Porque elas são lindas! São rosinhas! São rendadas! Os dentes não estão lá mas o espaço está reservado pra eles, delimitado por essa espécie de renda bonitinha que divide a gengiva em lotes. Uma graça. Bebês banguelas são simpáticos e fofinhos com aquela boquinha murcha, e vou sentir falta da Alice desdentada – apesar de saber que bebês com dentes são incríveis também, principalmente quando são só os dois dentinhos de baixo e o bebê fica parecendo um buldogue pelado, com aqueles dentes proeminentes e bochechonas balançando.

Enfim, ser mãe é exercitar o desapego, certo? Então vou dar adeus às gengivas muito dignamente e comemorar o dente segundo a tradição árabe: com um “Trigão”, que é uma sobremesa feita de trigo, nozes, amêndoas e outras coisas duras que representam tudo o que um ser possuidor de dentes pode comer. E todos comeremos – menos o bisavô da Alice, que já há algum tempo deixou de possuir dentes, e a própria Alice, que começa a possuir dentes mas não sabe usá-los e cuja mãe não é louca o suficiente pra mergulhá-la em açúcar e afins tão cedo.

Então é isso. Que venham os próximos dentes - mas venham depressa, senão a Alice vai ficar a cara do Chico Bento, com aquele dentão solitário. E Chico Bento, convenhamos, não dá. Tudo tem limite nessa vida. Até amor de mãe.



quarta-feira, abril 23, 2008
 
:: Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar

E esse sujeito que se meteu a voar amarrado em bexigas coloridas?

Isso é que é acreditar em Deus, hein? Não é à toa que é padre.


terça-feira, abril 22, 2008
 
:: treme-treme

Cacilda! 

Primeira vez na vida que eu sinto um terremoto! 

Tava aqui no computador quando minha bunda balançou e a água da garrafa em cima da mesa trimilicou-se toda. Gritei pro Carlos se ele tinha sentido o terremoto, rá-rá, e ele não achou a menor graça e disse que não. 

Agora entro na internet e aí está: 5,2 na escala Richter. 

Cacilda!



 
Taí, pra quem gosta: mais uma criança assassinada.

Agora eu quero ver uma multidão na favela em Itaquera onde ele morava clamando por justiça. Quero os aposentados, as fofoqueiras, as crianças com desenhos na mão, as faixas, os gritos. Quero ver o Bin Laden Brasileiro, o mané com asas de anjo, o sósia do Roberto Carlos, o senhor que veio dirigindo de Goiânia. Quero homenagem do Padre Marcelo e abraço da Xuxa, da Ivete e da Hebe na mãe do menino.

Puta palhaçada.


quarta-feira, abril 16, 2008
 
:: Faking it II

Minto. Tem uma coisa que me assombra ainda mais que a tosse fingida: Alice aprendeu a dança do mamulengo inventada pelo meu pai.

Eu não sei bem como aconteceu. Largamos a pequena com os avós e fomos ao cinema. Na volta, a novidade - Alice se requebrando toda e jogando a cabeça pra lá e pra cá feito um headbanger, uma coisa chocante para um bebê de 7 meses.

Caceta, baixou a Joelma na minha filha!, pensei, e aí veio meu pai e contou, todo pimpão, que tinha ensinado a neta a dançar. Enquanto a minha mãe trocava uma fralda, ele decidiu executar a tal dança do mamulengo, que consiste em dar passadas trôpegas com a cabeça balangando e os braços soltos em todas as direções feito um boneco de Olinda (aposto que quem conhece meu pai visualizou direitinho a cena). Alice achou divertido e decidiu incluir a dancinha no seu repertório de gracinhas para impressionar mamãe e papai.

Pois impressionou - e muito. Só que a dança do mamulengo, apesar de bonitinha, não serve pra muita coisa, além de ser potencialmente perigosa. Impressionada mesmo, pra valer, eu vou ficar se meu pai ensinar a Alice a usar o vaso sanitário.


terça-feira, abril 15, 2008
 

:: Faking it

Das várias habilidades que Alice desenvolveu recentemente (mostrar a língua, dar tchau, gargalhar com deboche, tungar óculos dos desavisados, depilar os braços do pai), nenhuma me causa tanto assombro quanto esta: ela finge acessos de tosse pra chamar a atenção. Malandragem é coisa inata, gente, quem diria?



sexta-feira, abril 11, 2008
 
:: Dieta djá!

A promesso de uma conta de e-mail gigante e à prova de superlotação, mais o fato de que o Google vai dominar o mundo, me fizeram criar uma conta no Gmail. Tá certo que no contrato, em letras miúdas, eles contam que lêem os nossos e-mails (e juram guardar segredo!), mas é por uma boa causa: assim eles podem rastrear os nossos interesses e colocar ao lado do e-mail links úteis e personalizados.  Ok, parece justo. E é sempre engraçadinho quando o Gmail sugere links bestas como  "restauração de lupas", "curso: martelinho de ouro" ou "guia NY para mãos-de-vaca."

Engraçadinho até hoje, quando ao lado de umas fotos minhas que eu mandei pro Carlos, sem texto algum no corpo do e-mail, apareceu o link "fotos de mulheres gordas".




quinta-feira, abril 03, 2008
 
:: Mãe Baranga 2008

Alice tá querendo me derrubar, assim não é possível.

Antes que a patrulha das mães zelosas me dê um pito, quero deixar claro o seguinte: tudo vale muito a pena porque ela é encantadora e me faz rir todos os dias, o que no fim das contas é o que importa nessa vida. Ok?

Mas o fato é que eu ganhei quilos por ela. Ganhei olheiras por ela. Ganhei uma ruga de preocupação no meio da testa por ela. A pele perdeu o viço (apesar de Carlos e Jojo terem dito que não - mas eles me amam muito, então não vale). As costas doem e a postura não é mais a mesma. Perdi um bocado de cabelo enquanto amamentava. E agora ela deu de pegar o pouco cabelo que me resta e arrancar aos tufos. Depois olha intrigada para as próprias mãos cheias de fios, e olha de volta pra mim, e ataca de novo, e provavelmente só vai parar quando não sobrar cabelo na minha cabeça.

O que à primeira vista parece mais um daqueles comportamentos inocentes e sem sentido dos bebês na verdade esconde um golpe muito bem dado. Porque Alice tem aquele cabelo curtinho fofo dos bebês, vista de frente. Atrás, onde deita a cabecinha no berço, tem uma careca ridícula. Carequinha de padre, sabe como? Um tipo clássico de calvície infantil. Não há pessoa que não diga “que lindinha” quando a vê de frente e “HAHAHAHA, OLHA ESSA CARECA!!” de costas. Então, se ela conseguir cavucar um buracão no meu cocuruto, talvez consiga desviar a atenção da própria calvície.

Minha filha pode não ter muito caráter, mas que é esperta, isso é.



terça-feira, abril 01, 2008
 

Eu tinha um salsicha bravinho chamado Dust. Amava o bichinho por razões que a própria razão desconhece, porque ele era terrível. Desses pequetitos invocados, sabe? Aquela arrogância invertida dos baixinhos, como disse certa vez Chico Buarque. Do alto dos seus 25 cm de altura, ele tinha a ambição maluca de ser o líder da casa. Mandava no Chicão, por exemplo, que é um labradorzão. E sempre disputou - na porrada - a liderança com nós, humanos.

Tomei mordida do Dust nos nossos 16 anos de convivência. Depois que ele perdeu os dentes, inclusive. Eu achava o fim do mundo as mordidas de gengiva dele. Mesmo. Era patético. Ele rosnava, franzia a fuça e atacava, um espetáculo deprimente e sem sentido que eu nunca entendi. Aí ele morreu, e foi horrível, e eu sinto saudade até da agressividade banguela e ridícula dele.

Pois não é que agora a Alice deu de me morder com a gengiva? Quando ela tá sentadinha na cama e eu deito a cabeça no colo dela é batata: ela vai tombando pra frente, bocão aberto, e nhac na minha bochecha (ou olho, ou nariz, ou testa). Mordidão de gengiva, bem babado! Às vezes ela muda de estratégia e dá um bote rápido quando eu tento beijá-la. Eu vou chegando pro beijo, ela faz que não notou e de repente tchum! vira a cabeça e tenta morder o que estiver ao alcance da boca. Eu adoro, claro! Porque, diferente das gengivadas do Dust, as da Alice são mordidas de amor. E ela tem um bafinho gostoso de leite, infinitamente superior ao budum dele, que era de matar.

Enfim, andei lembrando do Dust por conta disso. Pensei em botar uma foto dele desdentado pra ilustrar o post, mas me pareceu falta de respeito com o finado. Aí achei essa, de 1990: Dust com 2 meses, mostrando como seria a nossa vida dali pra frente. A vítima é minha mãe.