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quinta-feira, outubro 27, 2005
:: tim festival parte 02 - m.i.a. ok, eu estava curioso em ver a mia. pq falam tanto de funk carioca -- não há como negar que eles estão domindo o mundo pelas beiradas -- e no mínimo achei que poderia me divertir dançando de forma desordenada e extremamente rídicula. a merda: eu estava esperando as letras grosseiras! e quando ouvi aquele inglês estranho, me soou somente um bate-estaca... tentei em algum momento me motivar, mas não rolava. eu só entendi o "hey sao paulooooo!" mas gostei da mocinha. tem atitude e a indumentária foi presença. * * * esse foi o momento que fui comprar uma breja. esse tb foi o momento que pensei em abrir minha própria fábrica de cerveja -- tenho receita dada pelo meu professor de sociologia da eca que numa aula totalmente sem naipe ele divalgou a sua falência no ramo de bebidas etilicas. afinal, a breja, aquela garrafinha long neck, custava miseros 4 reais! repito... 4 pilas!!! se eu abrisse uma fábrica eu podia tentar vender breja nesses festivais indies. e colaria listras tipo adidas no copo. e voltava para casa com o dinheiro do pão de amanhã. :: tim festival _ parte 01 o mais estranho quando vc chega no local do tim festival é a quantidade de indies que tem lá. blusa adidas, piercings, tenis all-star. ainda era dia. shows de dia sempre tem clima de que nada ainda tá rolando direito. foi quando entra pontualmente a galera do mundo livre s.a. nunca os tinha visto ao vivo. eu e mais dez gato pingado estávamos realmente a fim de ver o show. começou com um cavaquinho. nunca ouvi um cavaquinho amplificado nesse volume. foi uma emoção, os caras são bons. o foda é que eu não conhecia nenhuma música pq eles tavam lançando um ep. fred 04: então galera, tamo vendendo nosso ep, fala com o carinha ao lado da mesa de som! ducaralho. os indies dormiram... segunda-feira, outubro 24, 2005
:: tim festival - primeiras impressões 1. o mundo livre é bom mesmo. 2. a mia é divertida, mas funk carioca em inglês não tem graça. 3. o arcade fire é tudo de bom. começar com "wake up" é mto chute nas bolas. 4. os caras do kings of leon são legais, mas acho que precisavam de um show próprio. california waiting é ducaralho. 5. os strokes são realmente bons. energia rooooooooooqui ótema. descobri que não sei cantar nada, mas lembro de todos os riffs de guitarra... ridículo. 6. drew barrymore é baixinha. terça-feira, outubro 18, 2005
:: shakeleg polaroids vol. 1 _ para mariana 1. anormal - pato fu 2. veronika - elvis costello 3. are you gonna be my girl - jet 4. que onda guero - beck 5. biggest mistake - rolling stones 6. wicker chair - kings of leon 7. its a hit - rilo kiley 8. de bem com a garota do tempo - poléxia 9. paulo e os livros - casino 10. better together - jack johnson 11. samba do amor - tereza cristina 12. please send me someone to love - fiona apple 13. something to talk about - badly drawn boy 14. 10 rocks - shelby lynne 15. big sur - the thrills 16. aint no easy way - black rebel motorcycle club 17. flowers - cibo matto 18. vrum - grupo rumo 19. juicebox - the strokes 20. processed beats - kasabian 21. get your way - jamie cullum 22. i wish i could shimmy like my sister kate - madeleine peyroux terça-feira, outubro 11, 2005
:: show da bethânia nunca fui a nenhum show dos notáveis da mpb. chico, caetano, gil, gal, etc... minha educação musical começou tarde, só no segundo grau. antes, eu só ouvia rádio rock-pop. nunca tive dinheiro para comprar discos (nunca tive uma pick-up), imaginem shows então. quem me apresentou caetano veloso foi uma menina chamada andréa. ela cantava "um indio" e "o leãozinho". achei bacana e fui procurar mais. depois conheci gil, depois chico buarque e todo resto. nesses momentos percebo que o ambiente é determinante para a formação de uma pessoa. não faço jultgamentos de que tenho uma formação musical sofisticada. em até certo ponto, acho bastante deturpada. gosto de rock e choro. de samba e eletrônico. de rap e soul. por tudo isso, o show da bethânia foi um acontecimento único. foi o primeiro show desses notáveis da mpb em que fui. o convite veio da minha amiga vandreza para quem ser admirador de bethânia é pré-requisito para uma amizade duradora. era aniversário dela também e me senti bastante lisonjeado por ter sido convidado. o tom brasil é uma casa chique. poucas vezes assisti a um show sentado e não me lembro de ter visto garçons em outros shows que fui. me pareceu que iria ver a uma peça de teatro. e era mais ou menos isso que eu ia ver. bethânia entra como se conhecesse aquele palco -- imaginei se todos os palcos eram iguais. sua voz domina a platéia. o show é uma mistura de canções do disco em que gravou vinicius de moraes e outra músicas com a temática amorosa. cita o soneto de separação, o de fidelidade. me arrepio e penso que a arte em versos é isso. quero que as pessoas recitem o que escrevo para ver se fica bom. bethânia recita alberto caeiro: todas as cartas de amor são ridículas... e termina: só os que nunca amaram é que são ridículos. choro, tento esconder. mas é verdade. bethância está celebrando o amor. o amor parece um mar. algo muito maior e confortante. ou é o sol que aquece o mar. ou é o cobertor ou é o abraço, afago. ou é uma canção ou alguém que lhe conta histórias boas. bethânia então começa "gente humilde". penso nas pessoas que tem tanto apesar de aparenter ter pouco. o que tenho não posso carregar em caminhão, é muito se for pensar. mas aqueles que só tem quem lhe acompanhe... penso: não tenho nada. eles tem tudo. olho para minha amiga vandreza. não, não. tenho tudo também. no decorrer do show percebo que bethânia sabe onde vai chegar ou pelo menos sabe como chegar. domina o palco. corre, canta, recita, pede benção e agradece. descem estrelas cênicas no palco e se faz a noite. muitas palmas. muitas. :: a cantina escolar de jamie jamie oliver é um chef que tem um programa de tv sobre culinária. é uma pessoa famosa na inglaterra e seu programa passa aqui no brasil no canal gnt. gosto muito de seu programa. não sou expert em gastronomia (a lu é a especialista nesse assunto), mas o que me chama atenção nos "truques de oliver" é a alegria e o entusiasmo com que jamie prepara a comida. no segundo volume da obra "a invenção do cotidiano", os pesquisadores franceses encabeçados por michel certeau levantam a hipótese de que cozinhar é uma forma de resistência cultural. se há tantas comidas industriais, por que as pessoas continuam a cozinhar, a criar receitas e a criar eventos em torno de uma mesa? certeau diz que é uma das pequenas atitudes das pessoas comum em resistirem ao que lhe são impostos. adoro cozinhar. acho muito mágico misturar poções, experimentar temperos, mudar gostos. perceber o tempo, o cozimento e a suavidade. está passando agora uma série chamada "a cantina escolar de jamie" em que ele tenta criar um cardápio saudável para as escolas públicas inglesas. e poderia ser só um programa denúcia de como o governo negligencia algo tão primordial como a merenda escolar. mas é muito pior. em um dos episódios a mãe de uns meninos nunca comera um abacate (tudo bem, deve ser dificil achar abacates na inglaterra) e nem majericão. a maioria come só junk food. e acho que o pior é o medo das crianças em experimentar o novo. muitas simplesmente fazem greve de fome para que o cardápio volte ao que era. fiquei angustiado em saber que a educação -- que não é só o abc e o 1, 2, 3 -- seja baseado apenas em normas e negligenciam o medo de tentar o novo. e a justificativa para isso é que a merenda não pode passar de tantos centavos de dólares. porra! senti que a invenção está morrendo. que os números são mais importantes que a prática, o processo e a criatividade. e que as crianças, aos poucos, não saberão que é há algo além do que está nas prateleiras. p.s. estou levantando a campanha para que se tenha um novo referendo: voto sim! para 50% do orçamento para educação!!! :: the godfather 3 aluguei a trilogia do poderoso chefão. muitas pessoas dizem que a terceira parte é a mais fraca... não sei dizer, mas é a parte que mais me emociona. a seqüência final é de uma angustia tamanha que toda vez que assisto me perco em sentimentos que não sei dizer. penso numa vida inteira perdida em decisões acertadas e erradas. de como somos levados e vamos mudando segundo o que a vida nos reserva. o grito de michael corleone ao ver a filha morta é de uma dor que me estrangula a alma. o al pacino deveria ganhar o oscar só por essa cena. há outras muito boas: a cena em que ele tem uma crise de diabetes e chupa uma bala prestes a se confessar a um padre ou a cena em que discuti com vincent sobre as mortes que seu sobrinho causou. ao contrário das outras partes em que o roteiro é engenhosamente articulado e com momentos drámaticos soberbos, a terceira parte explora a fragilidade do homem por trás do poderoso chefão. sou um sentimental. segunda-feira, outubro 10, 2005
:: sobre a campanha do desarmamento muitas poucas vezes coloque opiniões políticas nesse espaço, mas considero a política o grande príncipio da humanidade, espaço em que os seres humanos expõe suas idéias, desejos e representações. existe a grande política feito por políticos, mas existe também a política do dia-a-dia. não jogar papel no chão é um ato político. ter uma banda é um ato político. acreditar e ter esperança é um ato político. amar tem suas conseqüências políticas. a ética (a noção do certo e errado) está em todos nós. a ética se transforma, mas o ser humano continua imperfeito. e é na política que exercita sua imperfeição. não acredito que esse referendo tenha algum resultado a curto prazo. mas é muito bom ver as pessoas discutindo. discutir é oxigêncio da política. não acredito que essa simples consulta vá mudar da água para o vinho nossa situação. acredito em educação e políticas públicas eficazes. mas toda essa discussão me fez pensar em uma coisa: eu sou a favor de uma cultura de paz. por isso voto sim para a proibição. sei muito bem que não resolverá nada, mas almejo uma cultura em que não se tenha medo. já tenho muitos. penso nas razões de quem quer votar não. mas não me vêm outro motivo além do medo. respeito pois eu também tenho medo. quero que passe logo essa votação e a revelia do resultado, espero que possamos sentar todos e discutir o medo. sexta-feira, outubro 07, 2005
:: agenda reloaded + 23 de setembro - los hermanos + 25 de outubro - kings of leon, strokes, mundo livre s.a. e arcade fire + 23 de novembro - madeleine peyroux + 25 de novembro - pato fu + 26 de novembro - sonic youth, flaming lips, iggy pop, nin e nação zumbi + 2 de dezembro - pearl jam segunda-feira, outubro 03, 2005
:: COMO SE FUDER NO SHOW DO LOS HERMANOS Voltei para o Brasil há pouco tempo. Vivia com minha família na Inglaterra desde garoto. Estou morando no Rio de Janeiro há uns três meses e agora estou começando a me enturmar na Universidade. Não sei de muita coisa do que está rolando por aqui, então estou querendo entrar em contato com gente nova e saber o que tá acontecendo no meu país e, principalmente, entrar em contato umas garotas legais, né? Mas foi meio por acaso que eu conheci uma garota maneiríssima chamada Tainá. Diferente esse nome, hein? Nunca tinha ouvido. Estava procurando desesperadamente um banheiro no campus quando vi uma porta que parecia ser um. Na verdade, era o C.A. da Antropologia. Uma garota já foi logo me perguntando se eu queria me registrar em algum movimento estudantil de não sei lá o que. Pensei em dizer que estava precisando cagar muito rápido, mas ela era tão gata que eu falei que sim. Tainá: cabelos pretos, baixinha e com uma estrutura rabial nota dez... Aí, acho que ela me deu um certo mole... Conversa vai, conversa vem, ela me chamou para um show de uma banda hoje à noite que eu nunca tinha ouvido falar: Loser Manos. Nome engraçado esse! Estava fazendo uma força sobre-humana para manter a moréia dentro da caverna, mas realmente tava foda. Continuamos conversando e rindo. Ela riu até bastante, mas eu, na verdade, tava mesmo rilhando os dentes porque assim ficava mais fácil disfarçar as contrações faciais que eu estava tendo ao travar o cu para não cagar ali mesmo na frente dela. Pensando bem, eu tinha ouvido falar alguma coisa sim sobre essa banda lá na Europa ainda, mas não me lembro bem o quê. Ah, acho que vi esses caras no noticiário local dando uma entrevista. Achei que fosse uma banda de crentes tradicionalistas tipo Amish.Todos de barba, com umas roupas meio fudidas. Parecia até a Família Buscapé! Dão a impressão de ser uns sujeitos legais, mas o que me chamou a atenção mesmo foi o jeito da repórter, como se fosse a fã nº 1 deles, como se estivesse cobrindo a volta do Beatles ou coisa parecida. Não entendi esse jeito "vibrão" de trabalhar. Bom, mas se eu conseguir ficar com o bicho bom da Tainá hoje à noite, já tô no lucro! Marcamos de nos encontrar na entrada do ginásio. Rapaz, acho que tô dando sorte aqui no Brasil! Ia ser fácil achar essa garota no meio da multidão. Ela se veste de uma maneira estilosa, diferente, bem individual: sandália de dedo, saia indiana, camiseta de alça, uma bolsa a tiracolo e o mais interessante: um óculos fininho, de armação escura, grossa e retangular, engraçados até! Depois de uns mil "Desculpe, achei que você fosse uma amiga minha.", finalmente encontrei Tainá e seu grupo de amigos. Cacete, isso sim é que é moda! Parecia uniforme de escola! Ela me apresentou suas amigas, Janaína e Ana Clara e seus respectivos namorados, Francisco e Bento. Uma mistura de fazendeiros com intelectuais. Uns caras de macacão, óculos e de sandália de pneu e com ar professoral. Pareciam ser legais, "do bem" como eles mesmo falam... Mas que não me deram muita conversa. "Do bem", isso mesmo! Gíria nova... Todos aqui são "do bem". E que nomes tão simples! Janaína, Ana Clara, Francisco, Bento e Tainá. Nada de Rogérios ou Robertos. E eu já tava me sentindo meio culpado por me chamar Washington... Realmente estava no meio de uma nova época da juventude universitária brasileira! Comecei a conversar com a Tainá antes que a banda entrasse no palco. Aí, acho que tá rolando uma condição até! Quem sabe posso me dar bem hoje? Ela começou a falar de música: "Quem você gosta em musica?", perguntou. - Pô, eu me amarro no George..." Ela imediatamente me interrompeu, dizendo alto: "Seu Jorge? Eu também amo o Seu Jorge!" Puxa, que legal! Ela gosta tanto do George Harrison que se refere a ele com uma intimidade única! Chama ele de "Seu"! Seu Jorge! Isso é que é fã! "Legal você já conhecer ele, hein? Eu sabia que ele ia se dar bem na Europa! O Seu Jorge é um gênio!" , ela emendou. Pô, eu morava na Inglaterra. Como eu não ia conhecer o George Harrison? Essa eu não entendi... Depois ela perguntou quais bandas que eu gostava. "Eu curtia aquela banda da Bahia...". "Ah, Os Novos Baianos, né?? Adoro também!" "Não, Camisa de Vênus! "Silvia! Piranha!" cantei, rindo. A cara que ela fez foi de quem tinha bebido um balde de suco de limão com sal. Senti que ela não gostou muito da piada. Tentei consertar: "Achava eles engraçados, mas era coisa de moleque mesmo, sabe?" Óbvio que não funcionou... Aí, acho que dei um fora... Depois, Tainá foi me explicando que o tal Loser Manos é a melhor banda do Brasil, etc., etc., etc., e que eles "promovem um resgate da boa música brasileira". "Tipo Os Raimundos com o forró?", perguntei. "Claro que não!", disse ela meio exaltada! Ela me falou que não se pode comparar os Los Hermanos com nada porque "eles são únicos", apesar de hoje se ter excelentes artistas já reverenciados pela mídia do Rio de Janeiro como Pedro Luis e a Parede, O Rappa, Ed Motta, Paulinho Moska, Orquestra Imperial, Max de Castro, Simoninha e Farofa Carioca. Ela mencionou também "Marginalia" ou coisa parecida. Foi isso mesmo que eu ouvi? Achei que ela estivesse elogiando eles... Esses foram os nomes artísticos mais escrotos que já ouvi, mas fiquei quieto. Fico feliz em saber isso pois quando me mudei o que fazia sucesso no Rio era Neuzinha Brizola e seu hit "Mintchura". Ainda bem que tudo mudou, né? Só depois percebi que o nome da banda é em espanhol: Los Hermanos. Ah bom! Mas se eles são tão brasileiros assim porque não se chamam "Os Irmãos"? Quando saí daqui os nomes de muitas bandas costumavam ser em inglês e até em latim. Ainda bem que essa moda de nomes de bandas em espanhol não pegou por no Brasil! Pelo que me lembro, ao explicar qual é a dos "Hermanos", ela usou a expressão "do bem" umas 37 vezes e disse que eles falam de romantismo, lirismo, samba, brasilidade e circo. Legal, mas circo? Pô, circo é foda! Uma tradição medieval que ganha dinheiro maltratando animais. Onde está a poesia de ver um urso acorrentado pelo pescoço tentando se equilibrar miseravelmente em cima de uma bola enquanto é puxado pelo pescoço por uma corrente e por um cara com um chicote na mão? Rá, rá, rá... Engraçado pra caralho! Na boa, circo é meio deprimente. Palhaço de circo só troca tapão na cara e espirra água nos olhos dos outros com flor de lapela e quando sai do picadeiro, vai chorar no camarim. Que merda! A única coisa legal no circo mesmo é quando ele pega fogo. Isso sim que é um espetáculo de verdade! Aquela correria toda, etc. Senti que essa galera se amarra em circo. Não faz sentido se eles são tão politicamente corretos assim, né? E os pobres animais? E eu querendo não passar em branco com a conversa com a Tainá, mas não conseguia lembrar de jeito nenhum a única coisa que eu sabia sobre a banda... Cacete...! O que era mesmo? De repente, uma gritaria histérica! O show tava começando! O ginásio veio a baixo! Perguntei pra ela: "Eles são todo irmãos, né, tipo o Hanson?" Ela disse um "não" esquisito, como se eu tivesse debochando. Todos eles usam uma barba no estilo Velho Testamento e se chamam "Los Hermanos"! O que ela queria que eu pensasse? Após ouvir a primeira música deu pra ver que os caras são profissionais mesmo, tocam bem e são completamente idolatrados pelo público, para dizer o mínimo. Fiquei prestando atenção ao show. Tem uma influência de Weezer, Beatles e Chico Buarque. Esse aí é fodão, excelente compositor mesmo. Lá na Inglaterra conhecia uns caras que eram ligados ao movimento "Dark", como chamam por aqui. São os sujeitos que gostam de Bauhaus, Sister of Mercy, The Cure, etc. E tem a maior galera aqui no Brasil também que se veste de preto, não toma sol, curte um pessimismo niilista e se amarra nessas bandas. Mas se eles sacassem que o Chico Buarque é o genuíno artista "Dark" brasileiro. Pô, é só ouvir as músicas dele pra perceber: "Morreu na contra-mão atrapalhando o tráfego" ou "O tempo passou na janela é só Carolina não viu". "Pai, afasta de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue" ou "Taca pedra na Geni, taca bosta na Geni, ela é boa pra apanhar, ela é boa de cuspir, ela dá pra qualquer um, maldita Geni". Tudo alegrão, né? Se eu fosse dark, só ia ouvir Chico Buarque, brother! Tentei reengatar a conversa dizendo que achava ao baixista o melhor músico dos Los Hermanos. Ela respondeu, meio irritada: "Mas ele não é da banda!" Como eu ia saber?O cara tem barba também! Aí, não tô entendendo mais nada... Adiante ela me disse que o cara que ela mais gostava era um tal de Almirante. Depois de alguns minutos deu pra ver que o camarada imita um pouco os trejeitos do Paul McCartney, só que em altíssima rotação. Ele fica se contorcendo feito um maluco enquanto os outros ficam estáticos. É engraçado até! Parece que ele tem uma micose num lugar difícil de coçar! E fica falando e rindo direto. Ele é o irmão gaiato do cara que canta a maioria das músicas, o tal de Marcelo Campelo, como anunciaram no noticiário local. Isso mesmo, Marcelo e Almirante Campelo: "Os Irmãos"! Legal! Já tava me inteirando! Ah, e tem também dois gordinhos de barba que estão lá também, mas devem ser filhos de outro casamento... Tava um calor desgraçado, coisa que eu realmente não estou acostumado. Fui rapidão ao bar pra beber alguma coisa. Comprei umas quatro latas de refrigerante que era o único troço que tava gelado para oferecer para meus novos amigos: "Aí, trouxe umas Coca-colas pra vocês!" Ouvi a seguinte resposta: "Coca-cola? Isso é muito imperialista... guaraná é que é brasileiro!" Puxa, que pessoal politizado... Isso mesmo, viva o Brasil! "Yankees, go home", rá, rá! Outro fora que eu dei! Mas, pensando bem, eles não usam o Windows e o Word pra fazer trabalhos da universidade? Ou usam o "Janelas"? Dessas coisas gringas não é tão mole de abrir mão, né? Mais fácil não tomar Coca-Cola! Isso sim que é ativismo estudantil consciente! Posicionamentos políticos à parte, tava quente pra caralho, então bebi tudo mesmo sob o olhar meio atravessado de todos eles... fazer o quê? Lá pelas tantas, começou uma música e todo mundo berrou e pulou. Parecia o fim do mundo. Logo nos primeiros acordes, reconheci o som e falei pra Tainá: "Ah, eu sei o que é isso! É um cover do Weezer! Me amarro em Weezer!" Ela olhou pra mim com uma cara indignada e disse: "Que Weezer o quê? O nome dessa música é "Cara Estranho". Já vi que não gostou de novo... Mas quem sou eu pra dizer algum coisa aqui, né? Porra, mas que parece, parece! Mas o que era mesmo que eu não consigo lembrar de jeito nenhum sobre eles? Acho que conheço alguma outra música deles... Só não consigo dizer qual... Sabia que se eu quisesse me dar bem logo com a Tainá teria que ser entre uma música e outra pois parecia que ela estava vendo um disco voador pousar enquanto os caras tocavam. Resolvi fazer uma piada que sempre rola em shows. Quando o Campelo tava falando alguma coisa qualquer, berrei: "Filha da putaaaaaaaaaa!" Pra que? Tainá e sua milícia hermanista me deram uma cutucada na costela que me fez perder o ar! Pô, todo show rola isso! É quase uma tradição até! E é só uma piada! Aí, esse pessoal leva tudo muito a sério! Caralho... Pensei em pegar uma camisinha da minha carteira e fazer um balão e jogar pra cima, como rola em todo show, pra mostrar pra Tainá que eu sou uma cara consciente, tipo: "Aí, Tainasão, se tu quiser, eu tô preparado!", mas depois dessa vi que senso de humor não é o forte dessa galera... O tempo tava passando e nada de eu pegar a minha nova amiguinha. Quando fui tentar falar uma coisa no ouvido dela, foi o exato momento em que começou uma outra música. Foi aí que a louca deu um grito e um pulão tão altos que eu levei uma cabeçada violenta bem no meio do meu queixo! Ela não sentiu nada, óbvio, pois estava em transe hipnótico só por causa de uma canção sobre a beleza de ser palhaço ou lirismo do samba ou qualquer sacanagem do gênero. A porrada foi tão forte que eu mordi um pedaço da minha língua. Minha boca encheu d?água e sangue na hora. Enquanto eu lutava pra não desmaiar, instintivamente enfiei a manga da minha camisa na boca pra estancar o sangue e não cuspir tudo em cima de Ana Claudia e Jandaína or something. Só que estava tão tonto com a cabeçada que tive que me segurar em uma ou outra pessoa pra não cair duro no chão. Foi quando ouvi: "Nossa, que horror! Lança-perfume! Esse playboy tá doidão de lança! Que decadência..." Lança-perfume? Cara, lógico que não! E mesmo que tivesse, todo show tem isso! Mas nesse, não pode. É "do bem". É feio ter alguém cheirando loló!! Pô, todo show que eu fui na vida tinha alguém movido a clorofórmio. Que merda... Babei na minha camisa até o ponto dela ficar ensopada! Fui ao banheiro tentar me recuperar do cacete que tomei. Lavei o rosto e tirei a camisa. Quando voltava passei por uma galera e ouvi resmungarem alguma coisa do tipo: "...e esse mala aí sem camisa..." Porque não se pode tirar a camisa num show? Isso aqui não é só uma apresentação de uma banda? Parecia que eu ainda estava na Europa! Regulões do caralho... E, afinal, o que significa "mala"? Estava enxergando tudo embaçado e notei que minhas lentes de contato tinham saltado pra longe com a cabeça-ariete de Tainá e esmagadas por centenas de sandálias de dedo. Lembrei que sempre levo um par de lentes extras no bolso. É uma parada moderna que eu achei lá em Londres. Um estojo ultrafino com uma película de silicone transparente dentro que mantém as lentes umedecidas e prontas para uso. Abri o estojo e peguei cuidadosamente a película com as duas mãos e elevei-a contra a luz para conseguir achar as lentes. Estiquei os polegares e indicadores, encostando uns nos outros, para abrir a película entre esses dedos. Balançava o negócio levemente, de um lado para o outro, contra a pouca luz que vinha do palco para conseguir localizar as lentes. Não estava enxergando nada direito! Quando tava lá com as mãos pra cima, fazendo uma força do caralho pra achar a porra dessas lentes, um dos caras legais com nomes simples, me deu um puta safanão no ombro. É claro que o silicone voou longe também. Caralho, minhas lentes! Custaram uma fortuna! Que filho da puta! "Que sinal é esse que tu fazendo aí, meu irmão? Tá desrespeitando as meninas? " "Que sinal, que sinal?", respondi, assustado. "Buceta, palhaço!", apertando o meu braço que nem um aparelho de pressão desregulado. "Você tá no show do Los Hermanos, ouviu? Los Hermanos! Ninguém faz sinal de buceta em um show do Los Hermanos, sacou?", gritou o tal hipponga na minha cara. Que viado, eu não tava fazendo nada! Parece uma freira de colégio! Que lance é essa de buceta? Da onde esse prego tirou isso? As meninas... (Perái! Menina? A mais nova aí tem uns 25!) ficaram me olhando com a cara mais escrota do mundo! A essa altura, já tinha percebido que não ia agarrar a Tainá nem que eu fosse o próprio Caetano Veloso! "Bento", que nome mais ridículo... Isso aqui é um show ou uma reunião de alguma seita messiânica escolhida para repovoar a Terra? Caralho, que noite infernal. Tava com a língua sangrando, sem enxergar direito, só de calça, arrotando sem parar e puto da vida porque só tinha aceitado vir aqui por causa de mulher. Estava no meu limite. Isso era um show ou uma convenção do Santo Daime? Que patrulhamento! E, de repente, vejo Tainá e seus amigos olhando pra mim atravessado e cantando a seguinte frase: "Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba?" Aí foi demais! Aí, eu me atrevo: Ritmo, melodia e harmonia. Pronto, só isso! Mais nada! Olha só: foda-se o samba, foda-se o circo, foda-se a obsessão por barba da família Campelo e, principalmente, foda-se essa galera "do bem" que está aqui!" Apesar de tudo, a banda é realmente excelente! O que incomoda mesmo é esse público metido a politicamente correto e patrulhador e a imprensa que força a barra pra vender alguma imagem hipertrofiada do que rola de verdade. Esse climão de festival antigo de música popular brasileira, daqueles com imagens em preto e branco, com todo mundo participando, que volta e meia reprisam na tv. "Puxa vida, um novo movimento musical brasileiro?" "Estamos realmente resgatando a nossa cultura!" ? Ei, é só música pop! MÚSICA POP! Caralho, finalmente lembrei! Eu conheço uma música deles! Ouvi em Londres! Numa última tentativa de salvar meu filme com Tainá, na hora do bis, berrei bem alto: "TOCA ANA JULIA!" Só acordei no hospital. Tomei tanta porrada que vou ter que fazer uma plástica pra tirar as marcas de pneu da minha cara! Fui pisoteado! Neguinho ficou puto! Qual é o problema com essa música? Me lembro de estar sendo chutado pela elite dos estudantes universitários brasileiros e da própria Tainá, gritando e me dando um monte de bolsada na cabeça! Que porra louca! Tentaram me linchar! Ofendi todo mundo! Pô, Ana Julia é uma música boa sim! É um pop bem feito! Se não fosse, o "Seu Jorge" Harrison não teria gravado, né? Se ele não entende de música, quem entende? Me disseram depois que o tal Campelo se retirou do palco chorando, magoado, e o outro irmão mais novo dele, o nervosinho que imita o Paul McCartney, pulou do palco pra me chutar também. Do bem? Do bem é o cacete... Aí, sinceramente, ainda prefiro o Camisa de Vênus... Adolar Gangorra tem 65 anos, é editor do periódico humorístico Os Reis da Gambiarra e é filho único. p.s. não resisti, esse email é mto engraçado!!! eu adoro los hermanos, mas tem um público bem xiita... acho que todo artista... ;) |
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