quinta-feira, dezembro 04, 2003
 
Queda de uma escada põe fim ao baile do Vera Cruz

São Paulo - Vários jovens podem ter sofrido ferimentos leves e generalizados e pelo menos um teve um dos pés fraturado em conseqüência da queda da escada que liga dois pavimentos da Liquid Lounge, uma danceteria na Av. Hélio Pelegrino, 801, na Vila Nova Conceição, Zona sul de São Paulo. No local estava acontecendo um baile pró-formatura de estudantes do Colégio Vera Cruz, um dos mais caros da Zona Oeste da capital.
(...)
(Oswaldo Faustino - Agência Estado)


Amigos, acalmem-se, eu estou bem.
Devido à enorme quantidade de telefonemas, telegramas e visitas preocupadas com meu estado, informo a todos que eu sobrevivi à tragédia da formatura e que, ao contrário do que andam dizendo por aí, ninguém morreu.
Não acreditem em Marcia Goldschmit, Leão Lobo ou João Kléber.
Acreditem em

:: Mariana - Testemunha Ocular da História!

Pois é, o No-Scrubs não podia ficar de fora da bomba que está abalando a high-society paulistana. Nossa correspondente estava lá, no olho do furacão - melhor ainda: debaixo d'A Escada!!!

Foi assim:

Minha prima me chamou e eu fui. Era a festa de formatura do colegial do Vera Cruz. Novecentos adolescentes com hormônios fervilhantes agitavam-se freneticamente enquanto devoravam uns aos outros com olhares libidinosos.

Eu estava sentada com meu primo e uns amigos dele, aquecendo os tamborins, quando fui assaltada por uma dúvida hamletiana: devo atacar sexualmente algum lolitinho correndo o risco de ir parar na cadeia ou aceito placidamente minha condição de tia-velha e me comporto de acordo? Sem conseguir chegar a alguma conclusão, achei razoável tomar mais uma dose pra poder pensar com mais clareza sobre assunto tão complexo.

Eram 2h quando fui pro bar. Me posicionei bem no meio do balcão, quase embaixo da escada (questionamento 2: o exótico "suquinho-turbinado" ou o clássico "sprite com vodka"?), quando senti um empurrão e uma massa de gente se espremendo em direção ao bar. Pensei que fosse briga, me virei e vi uma menina caída no chão, parecia mais uma vítima do Efeito Open-Bar, uma pobre amadora. Fiquei olhando com pena mas ao mesmo tempo achando uma certa graça naquilo tudo, festa de formatura sempre me diverte muito, de um jeito ou de outro. Mas aí vi outra menina caída, e mais outra, e mais outra, comecei a pensar que o Vera Cruz não estava orientando bem essa juventude, e finalmente olhei pra cima e vi que a escada tinha despencado.

(Vou até repetir:
A ESCADA DA BALADA DESPENCOU!)


Notem que eu não estou falando do Teatro Mars caindo aos pedaços, nem do Dolores que um dia vai pegar fogo literamente e assar todo mundo ali dentro. Estou falando do Liquid Louge, na Vila Olímpia, antro dos mauricinhos e patricinhas de São Paulo, que numa noite normal deve custar uns 40 reais. O lugar é novo, gigante, bonito, não entendo como um arquiteto que inventou um espelho d'água na parede não foi capaz de construir uma escada decente (Questionamento 3: o que leva um "empresário da noite" a gastar dinheiro com futilidade e economizar no básico dos básicos, tipo porta de banheiro, papel higiênico ou uma escada que não desmorone?).

Resultado do acidente ridículo: a metade da festa que ficou presa no andar de cima teve que descer por uma escadinha que os bombeiros colocaram, e a metade que estava no térreo se dividia em: meninas chorando e meninos, em mais uma amostra de sensibilidade fulgurante, acompanhando a operação-resgate pra olhar a calcinha das meninas que desciam de saia. Isso durou até o momento em que os seguranças resolveram acabar com a brincadeira e enxotaram todo mundo dali.

Aí o povo se aglomerou lá fora praticamente fechando a Hélio Pelegrino, que virou o inferno materializado: três carros de bombeiro, uma multidão de adolescentes chorando, se abraçando e falando no celular pra saber das baixas, mães histéricas chegando, volta e meia alguém saindo carregado, pais levando seu rebentos feridos pro hospital. Cena de cinema, lindo lindo. (Questionamento 4: cadê o Celso Russomano numa hora dessas, pra dar um ar mais convincente à tragédia?)

Acompanhei todo o processo bastante interessada, até que minha prima-resgatada-de-saia (que muito sabiamente esperou até o salão ficar vazio pra descer) apareceu e fomos todos pra casa dormir. Fim.

(PS: as baixas, até onde eu sei, foram um pé quebrado, muito dinheiro jogado fora e o provável fim do Liquid Lounge, que ainda vai tomar um processo feio nas costas.)