quinta-feira, julho 17, 2003
 
:: dolls
(ao som de time machine de chara)

a partir de hoje, vou colocar minhas resenhas sem naipe sobre filmes e cd's aqui no blog. tentarei fugir da falta de noção da galera acadêmica e ser mais sem noção. o primeiro filme de que vou falar chama-se "dolls".



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assisti com a re a este filme do takeshi kitano. era importante que eu estivesse acompanhado porque eu sempre dou vexame quando assisto algo do kitano. choro pacas, um ridículo. agradecimentos a renata.

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a história é baseada em peças do tradicional teatro de bonecos japonês. a primeira fala de um casal de mendigos que vagueia pela cidade amarrados por uma corda. a segunda é sobre um chefão da yakuza que relembra seu antigo amor. a terceira é sobre um fã de uma cantora pop. histórias de amor trágicas basicamente para fuder o que resta disso em mim. hehehehe

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o povo japonês é muito estranho. na real, em sociedade, não se vê tanto desespero. mas sua ficção é extremamamente dramática. é muito próprio desse civilização como diria bazin. tudo é muito contido, mas tudo é muito grande. apesar de não ser usual ou visível no dia-a-dia do japonês, o amor é tão presente e forte quanto em qualquer outro lugar. essa contenção cria outras formas de representar o amor. eu me identifico bastante com isso. tenho uma dificuldade enorme de falar para as pessoas o quanto as amo. mas sempre tento representar isso de outras formas.

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o kitano roubou de mim a personagem principal de um livro que penso em escrever. a mendiga é a minha persongem!!! morra, kitano!!!

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o que nào gostei no filme é a forma como foi editado. achei umas partes muito lentas. e existem metáforas feitas com transições muito esquisitas. desnecessárias até. não acho bom que o roteirista dirija o próprio roteiro, acho ainda pior o mesmo cara montar. há umas "falhinhas" no roteiro, mas compensado com cenas muito geniais. a impressão que tive é que ao contrário dos outros filmes, esse ele teve tempo e dinheiro. as soluções que ele dava pros outros filmes é muito simples. aqui há um experimentalismo de excesso. mas ainda sim cruel.

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a metáfora da corda parece muito boba, mas representa bem as nuances de um relacionamento. assim como ela atrapalha em determinados momentos (quando ambos querem ir para direções diferentes), ela tambem salva (quando ela caí e se não fosse estar amarrada, morreria). a cena final é ainda mais representativa.

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há um personagem cego mas ao contrário do ditado, sua cegueira foi uma escolha. o amor pode ser cego, mas fatalmente quando se está apaixonado é preciso fazer escolhas doloridas.

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uma outra questão muito boa é a espera. sempre achamos que esperamos o quanto for quando estamos apaixonado. há no filme um personagem que espera também. pensamos que é uma idiotice, mas percebemos a loucura em que se entra quando estamos apaixonados. o fato é que o personagem desmente isso e decide continuar. reparte com outro o que gostaria de ter repartido com seu amor. é um momento sereno dentro da tragédia do filme.

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o momento mais lindo do filme para mim é um expectativa que o enredo cria durante seu desenvolvimento. estamos frente a um desencontro entre os mendigos. estão juntos mas não estão. a cena em que se reconhecem como amantes é a coisa mais linda que eu já vi!!! se eu chorei? puta que o pariu!!! disfarçadamente para não passar vergonha. o foda é que o kitano fez de um jeito que fudeu ainda mais. ele colocou um elemento diferente, uma transição de sentimentos dentro das personagens que é revelado no rosto. foi foda.

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é isso. amei o filme, apesar dos problemas. entendo que os japoneses tem outra leitura desse filme. imagine que no começo do filme é mostrado mesmo um teatro de bonecos. a galera do cinema acho que não viu graça, mas eu sei por exemplo que meu pai veria muito.

o filme também me fez pensar no final do livro que ando escrevendo. não tem final ainda basicamente. não sei muito o que fazer. gosto das tragédias pelo seu poder de revelação, mas também não gostaria de dar um final desses para esses personagens que estão me tornando queridos. vejo neles muito dos meus amigos. o que farei?