terça-feira, janeiro 06, 2009
 
um filme por dia

#006 - paranoid park



comecei gostando do tom do filme. a trilha sonora cheia de ruídos me lembrou uma bebedeira. minha cabeça fica meio assim como se fosse uma trilha sonora de ruídos. daí o veio um monte de câmeras lentas e depois um clipe do elliot smith muito bom mas que eu não sei se acrescentou. e daí mais câmeras lentas.

uma coisa que me intrigou é porque escrever em um caderno numa época eletrônica. podiam ter datado, aí o caderno faria mais sentido.

o roteiro é bem costurado, mas focar somente nele é meio esquisofrênico.

daria um bom curta.


segunda-feira, janeiro 05, 2009
 
:: um filme por dia

#005 doutores da alegria



acho que já vou mudar esse lance de um filme por dia para um filme por semana. a promessa já está causando grandes estragos a minha rotina e é melhor mudar agora que depois. ou não?

senão a gente cai numa picaretagem foda. por exemplo, o filme de hoje: doutores da alegria.

eu já havia visto parte deste filme no canal brasil e acabei terminando ontem no canal comunitário (ok, confesso, zapeio pacas). filme a prestação pode?

bom, falando do filme. eu simplesmente adorei. claro que soa uma puta propaganda de uma ong e tals. todo ele tem leis de incentivos a cultura, mas é bastante coeso e claro a questão tratada ali: a figura do palhaço.

é uma das figuras mais interessantes do imaginário da humanidade. um anti-herói com a complexidade de um filosófo e a inocência de uma criança. aliás, muitos filosófos acreditam que o olhar da criança é o mais puro, livre de preconceitos, logo o mais propenso a filosofia.

e num mundo cartesiano que vivemos, o palhaço realmente é um subversivo. lembro-me de uma turma de artes cênicas da eca/usp que fizeram uma temporada de clown. eles me contavam que a máscara do palhaço era um amplificador da alma e a conclusão era que somos todos ridículos, só que no palhaço, ridículo amplificado.

gosto desta figura desde que me apaixonei por fellini e giuliletta masina. "la strada" é lindo de morrer e ninguém me convence que cabíria era uma palhacinha vestida de puta.

o mais dificil em "doutores da alegria" é o ambiente hospitalar que eu simplesmente abomino. ainda mais quando crianças são as pacientes. é difícil ver encarar. com certeza, eu não tenho a mínima estrutura para ser um palhaço. sou muito fraco.

as histórias são belas. acho que a morte também é uma forma de amplificação de sentimentos. perto dela, tudo é muito mais intenso. destaco três cenas: dois atores contando sobre como convenceram um amigo que morava na frente do hospital a se vestir de gnomo; a cantoria de uma dupla de palhaços até o suspiro final de um garoto com leucemia e a cena em que o palhaço está em vários outros ambientes como escritório, bolsa, etc.

depois, num momento gondry-palhaço, imaginei um ambulatório cheio de palhaços doentes e crianças vindo reensiná-los a ter alegria.


domingo, janeiro 04, 2009
 
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#004 - efeito dominó




eu esperava algo do tipo "jogos, trapaças e dois canos fumegantes" ou "snatch - porcos e diamantes". filmes sacados, ageis e cheios de humor negro. sotaque inglês engana pacas.

ou um filme sobre um plano genial para se roubar um banco.

mas "efeito dominó" na verdade são dois filmes. um sobre um assalto tosco a banco. outro sobre intrigas palacianas e chantagens.

tenso na medida certa.


 
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#003 ensaio sobre a cegueira


a questão agora é adaptação de um obra literária para o cinema. 90% dos casos o livro é melhor que o filme, muitos dizem. eu particularmente prefiro encarar como uma leitura e não uma adaptação.

hichcock e kubrick eram caras espertos: sempre adaptavam livros que não fizeram muito sucesso. até glauber rocha pensou em adaptar "a falecida" de nelson rodrigues e chegou a conclusão que teria um conflito de "gênios'.

sim, eu li o livro e achei foda na época. adolescente e muito impressionável. não sei se teria a mesma impressão aterradora que tive na época. tanto é que "todos os nomes", o livro seguinte de saramago, foi como uma rendenção.

mas é que esse tal de fernando meirelles é um cara foda. desde "cidade de deus" mostra que é um ótimo diretor de cinema. o filme é forte, denso e fodástico. tudo bem que muita coisa do livro se perdeu, mas como eu disse, vejo como uma leitura do livro.

e talvez seja isso que me causa estranhamento neste filme: a leitura de meirelles. em "cidade de deus" e "o jardineiro fiel" temos o melhor diretor de cinema do brasil no quesito linguagem cinematográfica, na gramática, no feitio. quando temos evidentemente uma leitura em que o diretor se posiciona causa um certo estranhamento porque não haviamos visto tão explicitamente.

o tal cinema de autor.

outra coisa que me chamou atenção é assistir a cidade de são paulo no filme. acho que foi a primeira vez que a vi assim desfigurada, sem identidade mesmo reconhecendo o que era cada lugar, como se os espaços também perdessem os nomes.

e a cena final da casa me faz pensar quem é esse saramago que desdenha e humaniza o homem?


sexta-feira, janeiro 02, 2009
 
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#002 - Control



o foda de cinebiografias é que você já sabe como acaba, principalmente quando o biografado já morreu. e a maior dificuldade de fazer uma cinebiografia de um artista é fazer com que o cinema também seja uma releitura de sua obra.

uma outra questão de cinebiografias é a sua cota de realidade histórica: em um filme de ficção o quanto de realidade poética se pode ter para se manter a coerência a uma obra já conhecida? a invenção de partes da história é plausível?

um dos filmes mais bacanas que já vi chama-se "de volta a terra do nunca" no qual é retratado a feitura de uma das histórias mais famosas do mundo "peter pan". a invenção é declarada.

em control, todavia, a coisa não é tão bacana. ian curtis é uma figura emblemática do rock inglês pós-punk. o seu suícidio tem o lado romântico, um ser liberto que morre jovem e belo, encontrando assim sua imortalidade. personagem corriqueira na história do rock.

eu particularmente curto bastante o joy division e muito o new order. rock simples e incisivo.

mas o filme é mto lento para uma história que talvez não pedisse isso. é impossível não compará-lo a "24 hours party people", filme de 2002, que também conta a história do pessoal de Manchester mas através do olhar de tony wilson, um repórter famoso que tinha um programa que revela novas bandas.

control é um filme denso e chato. só em alguns momentos temos cenas que revelam o que se passa na mente do personagem central. a música serve como cola para justificar algumas passagens como a doença, a infelidade, etc. mas é isso que soa: uma cola. somente a construção do suícidio é bastante interessante e faz o filme ter um fôlego no terço final. a melhor cena é a de ian curtis assistindo à tv enquanto espera sua esposa. na tv há um caminhão levando uma casa embora e deixando um espaço vazio. no fundo, uma música tosca quase um jingle. e corta para ian atônito a ponto de chorar.

onde estão os demônios de ian curtis que o fizeram se matar? no filme a gente sabe que ele está deprimido, nos comove o ser humano sem saída. mas como se chegou a isso?

apesar de tudo, o filme traz de novo aquela velha questão: onde estão os poetas do rock n roll?

deixa a gente pensando enquanto ouvimos o que anda tocando no rádio... transmission!



quinta-feira, janeiro 01, 2009
 
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#001 jcvd



eis a minha primeira resenha de resolução de ano novo. talvez as pessoas esperassem algum obra fundamental de filmografias relevantes, mas com a promessa de assistir 365 filmes em um ano, este é bem interessante e já quebra o paradigma de que sou um cara bacana.

acho que todo moleque dos anos 80 indo para 90 deve ter visto pelo menos 2 filmes do van-damme. digo 2 porque o cara é um desses astros de filmes de ação tipo chuck norris, arnold sujacueca, steven seagal, etc. e é impossível ter passado este período sem ter visto estes filmes b. quem não se lembra de "retroceder nunca, render-se jamais" ou "o grande dragão branco"?

bom, a sacada do filme é exatamente este universo pop-brega-80. sim, o filme é todo metalingüístico e tira sarro da figura de van-damme, mas vai além.

normalmente filmes metalinguistico em que o personagem é o próprio ator não são muito comuns. lembro-me de john malkovich em "quero ser john malkovich" e julia roberts em "doze homens e um segredo". mas neste filme eles pegaram o histórico que nada serve de exemplos para as criancinhas de um astro em decadência (péssimos filmes, drogas, mal relacionamento familiar) e criam um filme no mínimo risível.

primeiro é van-damme falando francês, o que não deveria ser estranho já que o cara é belga. mas o cinema americano nos propõe há tanto tempo o absurdo de que o mundo inteiro fala inglês que ouvir van-damme falando a sua língua soa surreal.

a direção, por vezes, brinca com a linguagem. em um primeiro momento temos climas de cinema europeu com longos tempos mortos, frases deslocadas e que não cabem na clássica dramaturgia do "costurar para dentro", planos-sequências que estúdios americanos mandariam cortar na hora da filmagem. em outro momento, há toda tensão própria dos americanos: edição muito rápida, trilha sonora melosa, piadas pitorescas.

mas a melhor cena do filme é um monólogo surreal que van-damme faz no meio do filme, sem cortes, um reflexão a la bergman sobre si próprio e sua condição no universo do star-system.

como já havia lido em uma crítica e reitero aqui: o melhor filme de van-damme.

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